terça-feira, 21 de agosto de 2018
Relatos de superação e reminiscências de um carpinteiro chamaram a atenção de assistente social

Por Danielle Morais

Os dias dentro de um hospital parecem não ter fim para quem está internado. São 24 horas que se arrastam aos olhos de quem vê o dia passar pela janela de um leito. O carpinteiro Sebastião Soares Silva, 75, natural do povoado Lage-Grande, município de Itapecuru-Mirim, internado no HU-UFMA desde julho deste ano por conta de uma cirurgia de retossigmoidectomia (ressecção intestinal para patologias localizadas no reto ou sigmóide), encontrou uma forma de passar o tempo escrevendo suas memórias. Entre idas e vindas ao hospital, alimenta a esperança de transformá-las em um livro.

A ideia surgiu quando de sua primeira internação no Hospital Universitário, em 2003, para uma cirurgia cardíaca. Do desejo de preencher o tempo que quase não passava, nasceu um sonho: escrever um livro cujo o título já está escolhido: “Reminiscências”.      

A história do carpinteiro é uma entre tantas outras que poderiam passar despercebidas. Não fosse pelo serviço de assistência social cujo trabalho foca na atenção ao indivíduo para além das suas patologias. Durante visita de rotina, uma profissional do serviço percebeu que “seu” Sebastião tinha o desejo de publicar um livro de memórias. Desejo que o motiva diariamente.

“Nós, assistentes sociais, trabalhamos junto a equipe multiprofissional no sentido de garantir o direito dos usuários. São feitas atividades diárias de visita aos leitos para identificar demandas chamadas reais, como, por exemplo, necessidade de inserção na refeição, atendimento às famílias, entre outras. No momento da entrevista, de conversação, é possível identificar outras demandas que chamamos de potenciais. A história dele me chamou muito a atenção. Ele se diz autodidata enquanto escritor. Nossa intenção foi ajudar a divulgar o trabalho e quem sabe, a partir daí, surgir um apoio”, explica a assistente social Leida Cabral da Silva.

O carpinteiro, orgulhoso de sua obra, revela algumas passagens dessa narrativa.  “Entre tantas histórias falo da dificuldade que enfrentei para poder fazer o primário. Eu não consegui aquilo que eu desejava: disputar uma vaga de medicina, sequer na universidade eu cheguei, apenas trabalhei de carpinteiro na UFMA por dois períodos (1969 e 1976). Não consegui chegar lá, mas minhas três filhas chegaram. Não me realizei como estudante, mas minhas filhas se realizaram. Então, eu me realizei por elas”.

Os apontamentos narram ainda os problemas de saúde, a superação e tantas outras vivências que marcaram sua vida. Boa parte delas no município de origem e demais em São Luís, onde mora há 50 anos.  

“Estou feliz com a oportunidade de falar sobre o meu livro, que é um sonho. Foi uma surpresa quando a assistente social se mostrou interessada”, admira-se “seu” Sebastião com o brilho nos olhos de quem não perde a esperança. Empolgado, avisa que vem por aí um segundo livro: uma ficção que abordará a vida dos retirantes, o sofrimento do nordestino em São Paulo. “Vou escrever baseado nas muitas histórias que já escutei, porque nunca saí do Maranhão, sou o maranhense mais medroso que existe”.

No epílogo das suas reminiscências, um parágrafo o resume bem. “Me sinto um nostálgico, gosto mesmo de ser, pois as lembranças que sinto, são sinceras, boas lembranças, lembranças que não me causam nenhum constrangimento, lembranças que enquanto o meu cérebro funcionar e este coração velho e remendado pulsar estarão sempre vivas para mim”.

Informação: http://www.ebserh.gov.br 

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