sábado, 4 de maio de 2019

O manguezal, para todo o litoral do Brasil, possui uma importância fundamental, por tratar-se de um ecossistema extremamente rico, sobretudo, em produção de material orgânico, oriundo das folhas ou do material recebido pela drenagem dos rios que desembocam na costa, em áreas de mangue. Ocorre, então, uma reciclagem desse material que, com as marés, é levado para o estuário, o que proporciona alimento a uma grande quantidade de organismos que sustentam toda a atividade pesqueira do litoral.

Uma das maiores especialistas em manguezal do Brasil é a professora Flávia Mochel, da Universidade Federal do Maranhão – UFMA. Ela é formada em Ciências Biológicas pela Universidade Federal  do Rio de Janeiro - UFRJ, com doutorado pela Universidade Federal Fluminense. Desde 1987, que a bióloga se encontra na UFMA como pesquisadora do Laboratório de Hidrobiologia. Ela vem construindo com o seu grupo, nos últimos anos, uma sólida ideia conceitual do manguezal amazônico, por meio de longas vivências realizadas não só no Maranhão, mas também no Pará e no Amapá. Nesses três estados, localizam-se os espécimes mais desenvolvidos do país, em razão das condições climáticas propícias e de grandes marés. 


A proliferação dos mangues favorece a enorme variedade dos recursos pesqueiros da região, funcionando como fertilizante natural das águas do litoral. “Essa riqueza se deve, em boa parte, à existência dos manguezais, que funcionam como adubo, fertilizando as águas do litoral. Além disso, no próprio mangue há uma série de outros animais, organismos que a população utiliza enormemente, como é o caso dos caranguejos, ostras, sururus. O mangue funciona como um mercado público, principalmente para pessoas menos favorecidas, que não usam sequer uma linha ou um anzol para obtenção de alimentos. Costumo dizer que o manguezal, na verdade, é o verdadeiro Programa Fome Zero em nosso país, pois não apenas mata a fome, mas também fornece proteínas de altíssimo valor nutritivo. Uma vez que se retira o mangue, os prejuízos são incalculáveis”, esclarece a bióloga Flávia Mochel.

O TRUNFO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL

A destruição do manguezal, portanto, deve ser evitada a todo custo, já que dezenas de milhares de pescadores e de catadores de mariscos, bem como suas famílias, sobrevive graças à riqueza do litoral maranhense. Por outro lado, o manguezal, além de proteger a linha costeira contra a erosão provocada pelas fortes correntes marinhas, evita enchentes por conta da retenção de matéria líquida. Rio de Janeiro, Santos e Recife são exemplos de grandes centros urbanos que sofreram as consequências da destruição dos manguezais. 

Em alguns desses locais, atualmente, o país gasta muito dinheiro tentando recuperar áreas perdidas em decorrência da industrialização. Outra ameaça ao mangue surgiu nos últimos anos, quando um processo perverso de criação de camarão em cativeiro (carcinicultura) foi introduzido, provocando degradação ambiental grave. 


A região das Reentrâncias Maranhenses, que se inicia no município de Alcântara e prossegue até a foz do rio Gurupi, fronteira com o Pará, abriga a Floresta dos Guarás, um dos pólos turísticos mais importantes do Maranhão, naturalmente abrigando um diferenciado ecossistema que favorece a prática do turismo ecológico e de aventura. É fundamental, nessa região, evitar ao máximo o efeito antrópico, ou seja, impacto ambiental causado pelo homem. 

Cabe lembrar que a intensidade e a frequência da interferência humana sobre o manguezal são muito superiores àquela gerada pelos fenômenos naturais, e ambos apresentam características diferentes com relação aos impactos provocados. Dessa forma, é importante que se estimule, junto aos moradores do litoral, a prática da educação ambiental, visando uma convivência pacífica entre o homem e a exuberante natureza que o cerca, representada pela pujante riqueza do manguezal.

 Texto publicado na edição 115 do jornal Cazumbá.

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