segunda-feira, 3 de junho de 2019

Atingidos pelo rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG), eles visitaram Barreirinhas (MA) e Parnaíba (PI) para conhecer experiências de pequenos negócios que se desenvolveram às margens do Rio Preguiças e Delta das Américas.

É inegável a capacidade do ser humano de reinventar-se e renascer diante das adversidades da vida, incluindo as tragédias naturais e as ocasionadas pela ação do próprio homem. A busca pela renovação motivou um grupo de empresários de turismo e do comércio varejista de Povoação, Distrito do município de Linhares, no Espírito Santo, a sair do meio do caos e conhecer experiências exitosas de comunidades que vivem às margens ou na foz de rios brasileiros e desenvolvem pequenos negócios no entorno.


Além do caráter técnico desta ação, que aconteceu em duas cidades da Rota das Emoções – Barreirinhas (MA) e Parnaíba (PI), ao objetivo também foi estimular os empreendedores a serem multiplicadores de esperança para quem sofre com as consequências do rompimento da barragem de Fundão, que aconteceu em novembro de 2015, em Mariana (MG), considerado o maior desastre ambiental do país até hoje.

A missão reuniu 21 pessoas e foi realizada na última semana, numa parceria entre o Sebrae Espírito Santo, Sebrae Maranhão e a Fundação RENOVA – organização sem fins lucrativos criada para protagonizar o processo de reparação das consequências do acidente em Mariana, por meio de um Termo de Transação e Ajustamento de Conduta assinado em março de 2016 por dezenas de entidades, entre órgãos de âmbito federal, estaduais e municipais, as empresas Samarco, Vale e BHP e representantes do comitê das bacias hidrográficas atingidas.

Além de empresários do trade turístico e comerciantes de Linhares, a missão técnica contou com representantes do poder público de Linhares, representantes da Fundação Renova, Vale e do Sebrae Espírito Santo.

“A escolha recaiu sobre a Rota das Emoções por este ser um roteiro integrado de sucesso e benchmarking em turismo no país e por Linhares, assim como em Barreirinhas e Parnaíba, possuir pequenos negócios gerados a partir de um rio. Cremos ter acertado na escolha porque os empresários estão realmente encantados com as belezas naturais do lugar, com as pessoas e a cultura local”, declarou Sérgio Saquetto, gestor do projeto de Turismo e Cultura do Sebrae ES.

Renovar de esperança

Com aproximadamente 500Km de distância de Mariana, o município capixaba de Linhares foi atingido pela lama dos rejeitos da barragem da Samarco que poluíram o Rio Doce – e grande parte dessa importante bacia hidrográfica do Sudeste brasileiro, formada por 228 municípios (202 deles em Minas Gerais e 26 no Espírito Santo). A foz do rio é justamente em Linhares que, antes, tinha a sua economia voltada para a pesca, o turismo de aventura e o comércio.

“O pior de tudo é ver que as pessoas perderam a perspectiva e não conseguem enxergar nenhuma oportunidade. O rio está poluído e indisponível para a pesca por tempo indeterminado, inclusive na foz. A mídia se encarregou de fortalecer as notícias negativas e os turistas desapareceram. Então, estamos assim, sem esperanças. Mas é necessário que reajamos e essa missão tem sido como uma luz no fim do túnel, mostrando que precisamos entrar nesse processo de recomeço”, coloca a empresária do trade turístico de Povoação, Karina Lozer, comentando sobre a conservação do rio Preguiças e o turismo voltado para a sustentabilidade que viu em Barreirinhas foi impactante para eles.


“Os nossos rios, antes mesmo do rompimento da barragem, já eram poluídos. Não tínhamos tanta preocupação com a preservação e a sustentabilidade antes do trágico incidente, mas agora, que estamos sem poder usufruir de nossas águas fluviais por causa do extremo nível de rejeitos químicos, vemos que a sustentabilidade deve ser o foco do nosso reinício. Além disso, vimos aqui em Barreirinhas algo que a gente também não tinha: o comprometimento dos empresários com o lugar, o amor pelos Lençóis Maranhenses e o desejo de conservar esse patrimônio que é mundial”, pontuou a empresária.

Para a representante da Associação Cultural e Folclórica de Povoação, Lohayne Rigão, sair da zona de conforto foi providencial para o grupo que participava da missão ao Maranhão e Piauí. “O que buscamos aqui são subsídios, ideias, estímulo para recomeçar. Fomos surpreendidos muito positivamente com o que tem sido feito aqui em Barreirinhas. Claro que a cidade tem problemas, mas a apropriação das pessoas pelo lugar, o carinho com que recebem os visitantes, as belezas naturais que estão à nossa disposição e o cuidado com a sustentabilidade são exemplos para todos nós do grupo e com certeza reforçaremos isso na nossa região”, reforçou.

A Rota das emoções e seus atrativos

Os 21 integrantes da missão capixaba foram recepcionados em Barreirinhas pela equipe técnica do Sebrae Maranhão e tiveram a oportunidade de assistir a apresentações sobre a Rota das Emoções e os resultados da integração desse roteiro de sol, mar, praia, aventura e muita emoção que une o Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses (MA), a Área de Proteção Ambiental do Delta do Parnaíba (PI) e o Parque Nacional de Jericoacoara (CE).

“Levamos o grupo nas comunidades de Marcelino e Tapuio, onde viram como funciona o turismo de experiência, usando como produtos o artesanato em fibra de buriti e a fabricação artesanal da farinha de mandioca. Destacamos o processo de governança, o ordenamento turístico, a criação do voucher eletrônico em Barreirinhas e outras ações que o Sebrae participou direta ou indiretamente na Rota das Emoções. Eles ainda visitaram os Lençóis Maranhenses e desceram o Rio Preguiças de encontro a Vassouras, Farol do Mandacaru, Caburé e Atins, seguindo caminho para Parnaíba”, informou o coordenador de Turismo e Cultura do Sebrae Maranhão, Luis Walter Muniz.


Em terras piauienses, o grupo de capixabas conversou com empresários de Parnaíba, marisqueiras e artesãos para conhecer os produtos turísticos comercializados no destino e a produção associada ao turismo, bem como a gastronomia e o artesanato local. Visitaram o Delta, observaram a cata de caranguejos e a revoada dos guarás.

Para a artesã e comerciante Lucilene Frigini Caliman, a missão a Barreirinhas e Parnaíba foi um alento à alma. “Depois de vermos tanto sofrimento da nossa gente, sentirmos na pele as consequências dessa tragédia sem proporções, vermos nossos filhos saindo da cidade por não querer mais ficar lá, somos agraciados por Deus por essa oportunidade de conhecer experiências de sucesso em turismo.  Os Lençóis Maranhenses e o Delta do Parnaíba sãos lindos e a maneira como tudo está sendo conduzido, levando em consideração a conservação das belezas naturais que vocês têm aqui, é uma lição para todos nós praticarmos agora, que precisamos reconstruir nossas vidas e revitalizarmos a nossa economia”, colocou.  

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