segunda-feira, 16 de setembro de 2019

Era por volta do meio-dia e o sol estava generoso em nossas moleiras.

Atravessamos o Centro Histórico a pé, aproveitando a visão dos prédios, das pessoas e e a mesa já estava reservada com dois amigos que já tinham iniciado a festa comendo uma porção de “assado de panela” na Barraca da Maria.

Marcamos de encontrar uns amigos na Casa das Tulhas, espaço único e perfeito para interagir com a cultura e hábitos locais da cidade.

Sentamos e abrimos a primeira cerveja. Gelada, desceu rápida e gostosa, incrementada, talvez, pelo calor avassalador do meio-dia.

Bastaram algumas ligações para que os amigos fossem chegando e aumentando a mesa progressivamente. A felicidade não tinha mais lugar naquele dia.  Os assuntos não tinham fim, as gargalhadas eram fáceis e a cada nova cerveja, mais animados e mais risonhos ficávamos.

A feira da Praia Grande tem mesmo esse poder de envolver as pessoas num clima de êxtase. O ambiente é muito simples, beirando a desorganização, é verdade. Não tem atmosfera chique e não tem instalações turísticas primorosas, mas carrega consigo uma aura ao mesmo tempo interiorana e de agitação. 

Junto das mesas espalhadas pela feira, é possível encontrar galinhas, perus, capotes, plantas, postes e umas pedras em forma de bancadas para escamar peixes, afinal, antes de ser um ponto de encontro, é uma feira, com sua dinâmica muito peculiar.

Nesse dia de alegria, ficamos na feira noite a dentro. Não percebemos que o sol tinha baixado e muito menos que estávamos além de felizes, bêbados.

O mundo foi girando e vários outros amigos passando, encostando, bebendo, contando piadas, cantarolando músicas do vasto repertório romântico ao fundo (composições de Odair José, Roberto Carlos, Zezo, etc), à medida que porções de petiscos tipicamente maranhenses iram forrando nossos estômagos.

Maria, dona da barraca, saiu num determinado momento com uma bacia de peixes frescos lindos. Ela precisava tratá-los para deixar tudo pronto para os fregueses do dia seguinte.

Com a maior naturalidade do mundo, assentou sua bacia de pescadas, peixes-pedras e peixes serras e começou a tratá-los bem ao nosso lado, ou seja, lavou-os, escamou-os e abriu para a limpeza das tripas.

A essa altura, não levávamos mais nada a sério e ficamos rindo da situação extraordinária que estávamos vivendo: bebendo num espaço público, repleto de pessoas dos mais diversos lugares, ao lado de alguém escamando peixes e cantarolando músicas populares.

Saímos da feira muito felizes. O maridão, na época namorado, divertiu-se como nunca e guarda em sua memória até hoje os ótimos momentos daquele dia.

Na manhã seguinte, após vermos a máquina fotográfica, tal qual o filme “Se beber não case” para relembrarmos os acontecimentos, grande não foi a minha surpresa quando ao me olhar no espelho, vejo uma escama de peixe grudada e já seca bem na testa! 

Dedico a Eduardo Padilha (in memorian), Dadá, José Augusto, Igor Abrantes, Fábio Silva e Italo Genovesi.

Texto Originalmente publicado na Edição N° 107 Agosto/Setembro 2013 do Jornal Cazumbá

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