segunda-feira, 25 de novembro de 2019

Quando em dezembro caem as primeiras chuvas, meu coração palpita mais forte com o cheiro de terra molhada. Esse cheiro traz consigo muitas lembranças boas e algumas nem tão boas assim, mas que me levam de volta à infância e ao início das aulas.

Tem coisa mais bacana para uma criança que material escolar cheirando a novo? Mochila nova, livros e cadernos encapados com nome, série e sala nas etiquetinhas, o estojo repleto de canetas coloridas, lápis com borracha de cabeção e apontador de bichinhos faziam toda a diferença.

Como as aulas iniciam praticamente junto com a época das chuvas, a sombrinha também era um acessório importante. Para cada ano, uma nova estampa. Eu até ficava ansiosa pra chegar a escola e poder ver as das amigas e saber qual era a mais bonita. Havia uma competição velada entre nós. Ganhei algumas vezes, mas perdi muitas outras. A vida não era fácil naquela época e, às vezes, não dava pra comprar o modelo da moda...


Quando o cheiro de terra molhada sobe, minha vida toma outra cor e os pensamentos contaminam o ambiente. O cheiro da merenda escolar passa pelo meu nariz igual a fumacinha que aparece nos desenhos animados. A famosa merendeira, antecessora da lancheira, com o tempo foi se modificando e ficando mais moderninha. No início eram com a garrafinha aparente e depois, numa versão mais atualizada, a garrafinha ficava escondida e os temas eram de personagens famosos, como Tom e Jerry, Turma da Mônica ou Mickey Mouse.

Dia feliz foi o dia em que mamãe me falou que eu não precisava mais de merendeira e sim iria levar o dinheiro para comprar a merenda no colégio. A sensação foi parecida quando fiz 15 anos!

Também lembro dos potinhos de margarina com algodão molhado germinando um broto de feijão, os lançamentos da Faber Castell com lápis de cores diferentes e até do sucesso que foi a caixinha com 24 cores. Hoje existem tantas cores novas como nude, off white, fúcsia, que fico imaginando como deve ser complicado escolher o colorido dos lápis que vão compor a caixinha.


As borrachas perfumadas também tiveram um papel importante. Bastava apagar algumas linhas do “ditado”, que as danadas ficavam feias e sem perfume. No meio do ano sempre dava pra comprar uma novinha em folha e com o cheirinho renovado.

E as datas comemorativas? Amava o Dia do Índio. Como era bacana sair do colégio com o rosto pintadinho e com uma “atraca” de cartolina imitando um cocar. O Dia do Soldado também fazia festa, mas claro, sem a pompa do Dia da Páscoa. Esse era imbatível! Tinha chocolate, músicas e saíamos em fila indiana como coelhinhos, também com o rosto pintado. Dava vontade de ficar paramentado assim por dias e dias. 

Os cheiros sempre estiveram presentes na minha vida e são marcantes. Sou capaz de fechar os olhos e por 30 minutos refazer um dia de escola simplesmente sentindo o cheiro do álcool no estêncil junto com o nervosismo das provas do primário.

Estamos em janeiro e ainda chove pouco por aqui. Gosto de chuva. Gosto da abundância que a água traz. Adoro o exato momento em que a chuva pára e as pessoas ainda não perceberam. Continuam protegidas numa marquise ou em um pedaço de calçada. Acho esse momento mágico.

É bom sair andando pelas ruas e sentir o cheiro que a terra exala. Entre várias sensações também sinto que o novo está chegando. Aliás, um novo ano está iniciando! E que ele seja “aromatizado” e
inesquecível para todos.

Até a próxima!

Texto Originalmente publicado na Edição N° 69 janeiro 2010 do Jornal Cazumbá
Foto Ilustrativa / Internet

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