segunda-feira, 11 de novembro de 2019

Foram inúmeras às vezes em que perdi pontos porque em meio às aulas eu estava brincando de “stop” com minhas amigas. Coitadas das professoras de Religião, Educação Moral e Cívica e OSPB que passavam a aula falando pro vento. Julgávamos serem disciplinas menos importantes e por isso elas sempre foram sacrificadas. Associo a essa leviandade de adolescente a minha repulsa por muitos símbolos pátrios e o meu zigue-zague junto às religiões hoje em dia.

“Stop” sempre foi uma febre entre nós e não há ninguém da minha geração que não tenha investido horas a fio nessa brincadeira e que não saiba que damasco é a única fruta com letra D que existe!

Era uma brincadeira muito educativa. Éramos obrigados a ver TV, assistir novelas, saber das tendências de moda, automóveis, cinema, música e comportamento.

Hoje, por exemplo, seria muito mais fácil a brincadeira. Vejam só as opções de cores: fúcsia, nude, gelo, tabaco, rosa chiclete, verde hortelã, cimento, flúor etc.

Eu sempre fui um pouco lerda e, na maioria das vezes, estava escrevendo quando alguém dizia “stop”. Só conseguia ganhar quando o quesito cantor/compositor era o desempate, já que ninguém nunca sabia que cantores eram aqueles que eu escrevia. Como cobrar das amigas que conhecessem Núbia Lafayette, Altemar Dutra, Noel Rosa, Cauby Peixoto, Orlando Silva, Carlos Gualhardo, Silvio Caldas, Ângela Maria, Emilinha Borba, Dalva de Oliveira, Noite Ilustrada, se a moda era Menudo, Ciclone, Dominó, Tremendo, Sidney Magal, Fabio Junior, Biafra, José Augusto, Marcio Greyck, Kátia (a cega, lembram?) e todos os que apareciam no Chacrinha ou no Clube do Bolinha?

Bom também seria preencher a lacuna para carros e ter as opções de agora, já que basta inventar qualquer nome e dizer que é de carro que o outro acredita. Também com a quantidade e criatividade de hoje, vou contar...Que tal Sorento, Captiva, Tcson, Sandero, Livima, Megane, Locker, Toureg, Prisma, Punto, dentre outros, contra os clássicos Fusca, Corcel, Belina, Variante, Monza, Fiat 147, Del Rey, Chevete, Brasília, Opala, Caravan, Parati e Gol?

E os lugares? Ah os lugares...

Esse quesito eu adorava e antes mesmo das loucuras de Zelaya para fazer seu país ficar famoso, eu era a única a escrever Tegucigalpa sem medo de ser feliz e ficava só esperando para passar na cara do povo que era a capital de Honduras. Foi também estudando para me destacar no “stop” que descobri Belmopan, Georgetown e Paramaribo. Acho que vem daí minha paixão por lugares, pessoas, usos e costumes.

Nunca assisti por completo “Dançando na Chuva”, “Casablanca”, “E o vento levou”, “Bonequinha de luxo”, “A Noviça Rebelde” e “O Poderoso Chefão”, mas eram clássicos e tínhamos a obrigação de saber pelo menos o nome. O motivo? O “stop” é claro!

Como o Brasil não tinha lá fama de ser bom de cinema, não fomos orientados a assistir “Bonitinha, mas ordinária”, “Bye Bye Brasil” e “Xica da Silva”, dentre tantos outros do cinema novo, mas sabíamos os títulos para poder não perder na famosa brincadeira. Permitido mesmo eram os inúmeros “Os Trapalhões” até chegarem às telas “Ghost”, “Dirty Dancing”, “Curtindo a vida adoidado”, “A Garota de Rosa Shocking” e todos os outros onde o Patrick Dempsey não era a gostosura de agora!
Esse “stop” fez história mesmo!

A aula era sim o melhor momento de brincar e o fato de driblar o professor nos dava um certo crédito junto aos colegas e quando apostávamos em duplas, tinha briga para quem ficava com o mais forte. Como eu era a nerd da turma, desempatávamos com minhas pérolas antigas. Ponto pra gente!

Pena não ter tido nenhum campeonato de "stop”. Nesse quesito, nós meninas, perdíamos para os meninos que faziam campeonatos de futebol de botão, peteca, xuxo (você lembra?) e até de papagaio. Esses meninos sempre com o espírito de competição mais aguçada, tsc tsc...

Tivemos a sorte de assistir folhetins como “Tieta”, “Roque Santeiro”, “O Bem amado”, “Guerra dos Sexos”, “Ti ti ti”, “Pão Pão Beijo Beijo” e “Selva de Pedra”. Boas histórias e inesquecíveis personagens nos faziam ter no quesito novela nossa preferência.

Não sei se hoje ainda se brinca de “stop”, mas garanto que tudo que citei aqui tem a contribuição dessa brincadeira pra lá de educativa e pensando bem, talvez as aulas não tenham feito muita falta mesmo...

E você, sabe se existe uma outra fruta com a letra D???

Até a próxima!

Texto Originalmente publicado na Edição N° 67 novembro 2009 do Jornal Cazumbá
Foto Ilustrativa/Internet 

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