1. Menos pior

Na semana passada, enquanto fazia a leitura de uma notícia sobre a disputa eleitoral do segundo turno para prefeito de uma importante cidade do Sudeste, após o fim do texto, deparei-me com o seguinte comentário de outro leitor:

                No domingo, teremos de escolher entre o ruim e o menos pior.

Refleti um pouco sobre essa estrutura e lembrei que já havia ouvido muitas pessoas cometer o mesmo erro, ou seja, ela é utilizada com muita frequência pelos falantes da língua portuguesa. Isso me motivou a abordar esse tema em nossa coluna semanal.

Em português, os adjetivos têm três graus comparativos: de igualdade (tão forte quanto), de superioridade (mais forte que) e de inferioridade (menos forte que).

Você observa que os graus comparativos dos adjetivos são caracterizados por advérbios, como exemplificado nos parênteses acima: “tão” para igualdade, “mais” para superioridade e “menos” para inferioridade. Acontece que, no caso do comparativo de superioridade, quatro adjetivos não aceitam o advérbio “mais”. Trata-se dos adjetivos “grande”, “pequeno”, “bom” e “ruim”, com as seguintes formas, respectivamente: “maior”, “menor”, “melhor” e “pior”.

Portanto você pode observar que “pior” é comparativo de superioridade de “ruim”, ou seja, se não fosse uma exceção à regra, o normal seria dizer “mais ruim” (meu resultado foi mais ruim que o seu). Mas, como se trata de exceção, o certo é dizer “meu resultado foi pior que o seu”.

É lógico que não se podem usar dois graus diferentes numa mesma frase com o mesmo adjetivo. Mas, no exemplo inicial, temos o advérbio “menos” (que caracteriza o comparativo de inferioridade) seguido de “pior”, que é comparativo de superioridade. É, no mínimo, um paradoxo, pois o que se está informando na frase-exemplo é que o indivíduo terá de optar entre o candidato ruim e o candidato menos mais ruim. Ou seja, é uma aberração linguística.

O certo é usar o comparativo de inferioridade normalmente, com o advérbio “menos” e o adjetivo em sua forma normal. Observe:

                No domingo, teremos de escolher entre o ruim e o menos ruim.

Ninguém diz:

                Devo escolher entre o bom e o “mais melhor”.

Ou ainda:

                Devo escolher entre o bom e o “menos melhor”.

Também seria errado dizer o seguinte paradoxo:

                Sua roupa será clara ou “menos mais” clara?

Informação: UFMA