quinta-feira, 16 de setembro de 2021

O consumo doméstico de carne de animais selvagens tem impactos significativos na maioria das espécies protegidas pela Convenção sobre a Conservação das Espécies Migratórias de Animais Silvestres (CMS), diz um novo relatório divulgado na quarta-feira (15). O documento também aponta para o aumento do risco de propagação de doenças de animais para humanos.  

De acordo com o estudo, 70% das espécies de mamíferos protegidas pela CMS são destinadas ao consumo de carne silvestre. Isso levou a quedas drásticas e também à extinção de várias populações migratórias de mamíferos.  

O primeiro relatório deste tipo constatou que a carne selvagem é muitas vezes o principal fator para a caça legal e ilegal, especialmente de mamíferos grandes com cascos, e primatas, e ocorrem especialmente durante tempos de conflito, fome e trocas de uso de terras.  

Cerca de 67 das 105 espécies estudadas foram registradas como caçadas. Destas 67 espécies, o maior uso pretendido (47) foi para o consumo de carne selvagem. Outros propósitos eram tradições culturais, uso medicinal, conflito entre homem e vida selvagem, captura não intencional e para esporte ou caça de troféus. 

Risco de doenças zoonóticas - De acordo com o relatório, há fortes evidências de que os surtos de doenças zoonóticas estão ligados às atividades humanas.  É o que muitos cientistas acreditam ter acontecido no caso da atual pandemia da COVID-19 . O consumo de carne selvagem também foi identificado como o agente direto e causador do contágio em humanos do vírus Monkeypox, SARS, vírus Ebola do Sudão e vírus Ebola do Zaire, com subsequente transmissão entre humanos. 

No total, 60 patógenos virais zoonóticos foram relatados como hospedados pelas 105 espécies migratórias estudadas.   

A invasão de habitats intactos remanescentes por meio de infraestrutura e atividades econômicas tornaram vastas as novas áreas acessíveis à captura de carne selvagem, o que aumenta o risco para os humanos.   

A diretora executiva do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), Inger Andersen, ressalta que a pandemia da COVID-19 ensinou que a superexploração da natureza tem um custo alto. 

“Precisamos urgentemente deixar de fazer as coisas como sempre fizemos. Ao fazer isso, podemos salvar muitas espécies da beira da extinção e nos proteger de futuros surtos de doenças zoonóticas”, disse ela. 

Uso doméstico é principal preocupação - A atenção global tem se concentrado amplamente no comércio internacional, mas o relatório descobriu que a grande maioria da captura de espécies para consumo de carne selvagem é motivada pelo uso direto ou comércio doméstico. 

Para a secretária executiva da CMS, Amy Fraenkel, este relatório “indica pela primeira vez uma necessidade clara e urgente de se concentrar no uso doméstico de espécies migratórias protegidas de animais selvagens, em toda a sua distribuição”. 

O estudo destaca uma série de fatores que alimentam o problema. O primeiro deles está relacionado ao fato de que a legislação e os regulamentos nacionais carecem de clareza ou estão desatualizados. Além disso, as regras costumam ser mal aplicadas. Uma terceira questão é o conflito civil e a mudança no uso da terra. Em quarto lugar, os animais migratórios cruzam países e regiões com uma ampla variedade de leis e distintas abordagens de aplicação destas. Por último, a urbanização e o aumento da venda de carne silvestre como produto de luxo estão em alta.

O estudo também revela ligações entre a caça e as tendências de declínio populacional de várias espécies. Cerca de 77%, ou 40 de 52, das espécies da CMS que foram avaliadas pela União Internacional para a Conservação da Natureza como tendo populações decrescentes são ameaçadas de caça.  

Por exemplo, todas as subespécies de chimpanzés e três das quatro subespécies de gorilas relatadas como significativamente ameaçadas pela caça, também estão experimentando grandes declínios populacionais. No geral, o relatório conclui que a captura ou caça furtiva dos mamíferos possui um impacto direto nas populações de mais da metade das espécies estudadas, com impactos elevados para pelo menos 42%.

Informação: Nações Unidas 

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