Não duvide

o amor só aparece quando estamos prontos, mas não adianta forçar a sua entrada. no final das contas, amar é só pra quem pode.

(Imagem: Pinterest | Reprodução)

Eu encontrei quando não quis

Mais procurar o meu amor

E quanto levou foi pra eu merecer

Antes um mês e eu já não sei

E até quem me vê lendo o jornal

Na fila do pão, sabe que eu te encontrei

E ninguém dirá que é tarde demais

Que é tão diferente assim

Do nosso amor a gente é que sabe, pequena

Eu encontrei e quis duvidar

Tanto clichê, deve não ser

Você me falou pra eu não me preocupar

Ter fé e ver coragem no amor

E só de te ver, eu penso em trocar

A minha TV, num jeito de te levar

A qualquer lugar que você queira

E ir aonde o vento for

Que pra nós dois

Sair de casa já é se aventurar

Ah, ah vai

Me diz o que é o sossego

Que eu te mostro alguém

A fim de te acompanhar

E se o tempo for te levar

Eu sigo essa hora e pego carona

Pra te acompanhar

O trecho é da música “Último Romance”, da banda de rock Los Hermanos, formada no Rio de Janeiro, na década de 1990. Às vezes pop, às vezes indie, eles criaram uma identidade que continua relevante nos dias de hoje.

• Ao ser questionado sobre o título da música, um dos integrantes da banda respondeu que o “Último Romance” é aquele que fica a vida inteira, mesmo que a vida dure 6 meses.

Como qualquer forma de arte, “cada um ouve na música, a música que tem dentro de si”, mas vale arriscar uma reflexão — dentre tantas outras possíveis — da letra que marcou uma geração.

Logo no primeiro trecho, já vemos uma dessas verdades difíceis de engolir: “Eu encontrei quando não quis mais procurar o meu amor”.

É verdade que as “pessoas certas” só aparecem quando estamos prontos. Porém, se pensarmos por outro lado, talvez o “estar pronto” seja justamente deixar que tudo aconteça naturalmente.

• Tentando achar um meio termo, o segredo pode ser não se impedir de amar, mas também não correr atrás do amor.

Assim, quando essa combinação de sorte e empenho acontecer, o resultado está na estrofe seguinte: E até quem me vê lendo o jornal na fila do pão, sabe que eu te encontrei.

Em outras palavras, o amor não é aquilo que te deixa apreensivo e tira o seu sono. O nome disso é outra coisa. O amor, quando chega, te deixa rindo à toa, até na fila do pão.

Por fim, quando “tanto clichê” acontecer, é comum querer duvidar. Mas, nessas horas, cabe o conselho da pessoa amada citada na música: “Você me falou pra eu não me preocupar. Ter fé e ver coragem no amor”

A Laura que vai ler

BASEADO EM UMA HISTÓRIA REAL

(Imagem: VSCO | Reprodução)

O Hugo e a Laura se conheceram em 2021. Trabalhavam na mesma empresa, mas foi apenas em um happy hour na Vila Madalena que os dois se enxergaram. 

• Ele nunca teve muita fé no destino, mas não consegue deixar de acreditar que alguma coisa se alinhou para esse primeiro encontro.

Depois de alguns minutos de assuntos protocolares, os dois começaram a conversar por horas. Era uma madrugada de sexta pra sábado que, por sorte, terminou com um beijo de despedida.

Ao longo da semana seguinte, o Hugo atormentou uma amiga em comum para que a Laura pudesse aparecer no bar de quinta. Dessa vez, eles trocaram telefone e combinaram de se esbarrar de propósito.

O primeiro encontro oficial foi em um bar ao pé do edifício Copan. As cervejas da noite emendaram no café da manhã, que emendaram no almoço, e acabaram em um final de semana inteiro juntos.

A partir daí, passaram a se encontrar direto. Seja para sair com os amigos aos sábados à noite ou assistir filmes embaixo do cobertor aos domingos. Foram em festas e também em restaurantes.

• Como tinham acabado de sair de relacionamentos — e não estavam procurando “nada sério” —, deixaram as coisas do jeito que estavam indo.

Nesse “nada sério”, criaram o hábito de fazerem pequenas viagens aos finais de semana, que eles apelidaram de “minitrips”. Já foram acampar, curtiram algumas praias e se hospedaram em prédios históricos de São Paulo.

O Hugo foi na formatura da Laura, e ela na dele, alguns meses depois. Ele foi almoçar comida italiana com os pais dela, e ela experimentou a famosa feijoada da família dele.

Foram em festivais de música, museus e bares. A música mais ouvida dela, em 2022, foi a que ele mais ouviu em 2021: Supersoaker, do Kings of Leon. 

• O Hugo se lembra quando a Laura disse “eu te amo” pela primeira vez, no cinema, enquanto assistiam "Tudo em todo lugar ao mesmo tempo".

As letras já até sumiram, mas ele ainda guarda o ingresso na carteira. Ah, o Hugo também pensa que não foi à toa que o filme ganhou o Oscar na semana seguinte.

Ainda assim, quando alguém perguntava se eles estavam, finalmente, namorando, respondiam um uníssono: "Não, a gente só fica de vez em quando."

Quando completaram um ano da falta de compromisso, o Hugo parou pra refletir e chegou à conclusão de que tinha vivido a Laura do jeito que grandes amores devem ser vividos.

Ele se sente bem com ela, muito bem. Ela é a pessoa mais divertida que ele conhece e os dois nunca passaram um dia juntos sem darem boas gargalhadas. Eles vivem uma relação tranquila e se respeitam.

• O Hugo afirma que, se algum dia, você, leitor, estiver andando pela rua e passar por ele, vai saber que ele ama a Laura.

Em suas palavras, você pode nem saber quem é a Laura — embora agora saiba — mas vai ter a certeza de que aquela pessoa que passou, que é apenas mais uma entre tantas, ama a Laura.

Ele acha que isso é algo meio Los Hermanos: "e até quem me vê na fila do pão lendo jornal, sabe que eu te encontrei” e tem a certeza de que essa sensação só acontece em grandes amores.

Além disso, o Hugo acredita que eles só deram tão certo porque fizeram tudo no tempo deles. Ele viveu cada segundo com ela como se só existisse aquele segundo. E talvez seja esse o segredo.

Enfim, depois de toda essa reflexão, ele decidiu que queria pedir ela em namoro. Pensou nas formas mais mirabolantes e inesquecíveis de fazer isso, até que um dia, aconteceu.

• Era véspera de seu aniversário e os dois tinham viajado para acampar na praia. Depois de assistirem ao pôr do sol, ele sentiu que aquele era o momento certo.

O pedido foi tão baixinho que ele achou que ela não tivesse ouvido, mas sabe que ouviu, porque ela respondeu um daqueles “sins” que a gente fala depois de uma pergunta óbvia.

Escrevendo esse resumo de tudo que já viveram, o Hugo se lembra de uma frase de efeito que a Laura já encaminhou pra ele no Instagram: "Eu sinto que nós nunca fomos estranhos, nem por um segundo". 

A verdade é que ele sempre soube o espaço e a importância que a Laura teria em sua vida. Desde a primeira vez que conversaram, naquele primeiro happy hour, que parece ter acontecido há milênios.

• Ele se sente feliz com ela, mais do que feliz. Acha até que já falou isso no texto, mas vive com a constante sensação de estar no lugar certo e na hora certa.

Todo domingo, religiosamente, o Hugo e a Laura leem o the stories. Os dois revezam quem lê e quem escuta — uma semana é ele e, na outra semana, é a vez dela.

Se não for abusar do destino, ele espera que essa história caia em um domingo no qual a Laura é quem lê. Talvez seja pedir demais, mas, por tudo que narramos acima, o Hugo sabe que está podendo contar com a sorte.

Domingo de amor e arte 🧠

EDITOR'S PICK

Aproveitando o clima de amor e cultura, fizemos uma seleção com livros para vocês colocarem na cabeceira. Aproveite a oportunidade pra ficar mais interessante e de coração quentinho. 📚

1. Esse já apareceu por aqui, mas, se você ainda não leu, vale a pena reforçar: o livro Tudo É Rio, da autora Carla Madeira, é poesia pura. 💦
2. Como a gente também gosta de um pouco de suspense, A Mulher na Janela é um thriller que remete ao melhor de Hitchcock — além de te deixar vidrado até chegar no fim. 🪟
3. Clássico dos clássicos. Como a Jane Austen sempre está presente por aqui, a dica de hoje vai pra essa versão linda da obra universal e atemporal, Razão e Sensibilidade. 🫀
4. Unindo uma escrita impecável com uma crítica social sensível, o livro A Hora da Estrela, de Clarice Lispector, é uma dessas “obras obrigatórias”. 🌟
5. Pra sair do clichê, a indicação que surpreende — e prende do início ao fim — é o livro Poeta Chileno. 🤓

Informação: The Stories  / Reprodução