quarta-feira, 1 de abril de 2020

A pandemia da COVID-19 fechou escolas em 165 países, deixando 87% de todos os alunos do mundo sem aulas. A reposta para isto é o ensino  online mas nem todas as crianças têm acesso a tecnologia necessária para o aprendizado remoto.

A Coalizão Global pela Educação estimula a adoção de soluções práticas, que podem incluir alternativas como rádio e TV. É o que explicam Angelina Jolie, enviada especial da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), e Audrey Azoulay, diretora geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), em artigo publicado na Revista Time nesta semana.

Leia a íntegra a seguir:

A pandemia da COVID-19 tem causado uma série de traumas que nos faz repensar o significado de nossa humanidade. Os esforços para retardar o avanço da doença tem demandado sacrifícios enormes.

Temos visto trabalhadores de saúde e outros na linha de frente se colocando em grande risco, sem nenhuma hesitação, para proteger a todos nós. A decisão de fechar escolas é outro sacrifício significativo: 87% de todos os alunos do mundo – mais de um bilhão e meio de jovens pessoas – não podem ir a escola por conta do fechamento nacional de escolas em 165 países.

Como é muito comum no caso da natureza humana, quando somos privados de alguma coisa, seu valor se torna claro. Educação é muito mais do que apenas aprendizado em sala de aula. Para milhões de crianças e jovens, escolas são uma oportunidade de salvação e também um abrigo. Salas de aula oferecem proteção – ou pelo menos o adiamento – da violência, exploração e outras circunstâncias difíceis. Nos Estados Unidos, cerca de 22 milhões de crianças dependem da escola para ter uma refeição quente que as tire da fome. Em países frágeis, o fechamento de escolas tem o potencial de ser devastador e permanentemente desestabilizar o futuro das crianças.

Quando as escolas fecham por mais do que algumas semanas, casamentos precoces aumentam, mais crianças são recrutadas por milícias, exploração sexual de meninas e adolescentes aumenta, gravidez de jovens aumenta e o trabalho infantil aumenta. O inverso também é verdadeiro: a educação melhora significantemente não apenas as perspectivas de vida individuais mas a estabilidade e a prosperidade de sociedades inteiras.

Desigualdades só aumentarão enquanto dias se transformarem em semanas e semanas em meses. Vemos isto mais fortemente com a população mundial de refugiados. Um a cada cinco refugiados tem estado em situações de deslocamento que duram 20 anos ou mais – mais do que o total de tempo que dura a educação de uma criança.

Sem uma assistência prática urgente, algumas das crianças deixadas sem escola ao redor do mundo em função do coronavírus podem nunca mais pisar numa escola de novo. Precisamos encontrar maneiras de garantir acesso a continuidade da educação de jovens em todo o mundo, reconhecendo a imensa escala do desafio.

A UNESCO está lançando a Coalizão Global pela Educação para estimular a busca por soluções práticas. Estamos pedindo que organizações internacionais, sociedade civil e empresas do setor privado comprometidas com administração responsável participem.

O objetivo é identificar e compartilhar as melhores inovações para manter as crianças aprendendo durante a pandemia e ajudar a estabelecer as bases para abordagens mais inclusivas e igualitárias para a educação quando a crise arrefecer.

A principal resposta para o fechamento das escolas é voltar para o aprendizado a distância e online. Para uma proporção crítica de alunos, o aprendizado de repente veio para casa e pais, irmãos, cuidadores, família e amigos próximos se encontram no papel de professor junto a instrutores virtuais. Muitos pais, que agora estão trabalhando em casa, estão também se esforçando para equilibrar as demandas de trabalho com as de se transformar em instrutores em tempo integral. Estas experiências nos lembram o valor do trabalho diário dos professores, que muitos não valorizam e com frequência criticam.

No entanto, nem todos os jovens têm oportunidade de aprendizado remoto. Muitos lares, especialmente em países frágeis, não tem capacidade, infraestrutura tecnológica e recursos financeiros para operar o ensino remoto em escala. Nem todo o currículo existente foi concebido para ser ensinado remotamente. E a habilidade dos pais em dar tempo e recursos para facilitar o ensino em casa varia enormemente dentro do país e entre os países. Há barreiras gigantescas.

A Coalisão Global estará emprenhada em achar maneiras de reunir recursos e experiência e direcionar soluções tecnológicas e ferramentas digitais para aqueles que precisam. Precisamos acelerar meios de compartilhar experiência e ajudar os mais vulneráveis, tendo ou não acesso a internet. Medidas podem ser tão sofisticadas quanto plataformas nacionais em nuvem ou tão simples quando programação de rádio e aplicativos passíveis de uso offline – usando um mix de abordagem de tecnologia e de comunicação, dependendo das circunstâncias locais.

Crianças vulneráveis e carentes – incluindo meninas, pobres, deficientes e alunos deslocados – devem ser prioridade. Elas são as crianças que podem perder aprendizado ou sofrer um declínio em saúde e nutrição e desenvolvimento educacional. E são elas que têm mais chances de não retornar para as escolas quando estas instituições reabrirem. Educação deveria também ser protegida de cortes futuros de austeridade.

Inovações já estão acontecendo em resposta ao fechamento das escolas. O Peru está oferecendo material de ensino através da TV e do rádio, traduzido para 10 línguas indígenas, para ajudar os alunos a lidar com o isolamento. No Senegal, o Ministro da Educação lançou a iniciativa “Apprendre à la Maison” (aprendendo de casa). Nos últimos anos, esquemas como Passaporte de Qualificação da UNESCO para Refugiados e Mirgantes Vulneráveis tem introduzido ajuda para pessoas em deslocamento conseguirem qualificações reconhecidas. Estas são algumas das muitas inovações que podemos criar.

Mas este momento deveria ser mais do que apenas pequenos passos para mitigar a ruptura e salvar vidas. A crise da COVID-19 é um chamado de despertar para a comunidade internacional como um todo, incluindo as Nações Unidas. Muito antes da pandemia, 258 milhões de crianças e jovens estavam fora da escola em todo mundo. Houve muita oportunidade perdida no passado. Este é um momento definidor para repensar o futuro da educação e a transformação que pode ser atingida através do acesso universal a educação de alta qualidade.

Hoje devemos enfrentar o antes impensável desafio de ensinar sem escolas. Mas temos também a oportunidade de reinventar a educação do futuro. Devemos aproveitá-la.

Informação: Nações Unidas 

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