segunda-feira, 2 de novembro de 2020

E tudo parou.

A gente sentiu medo. Todo mundo isolado, gostando até de ficar em casa se abraçando e se beijando o dia todo. Ruas vazias e silêncio.

Fazíamos o almoço com três tipos de salada, criatividade nível hard. Pães, biscoitos e bolos saindo quase todo dia quentinhos. Engordamos.

O trabalho se intensificou e o filho começou a sentir. Fazíamos bichinhos de rolos de papel higiênico, desenhávamos, pintávamos, as aulas online ainda estavam se adequando e a gente foi cansando fisicamente e a casa ainda tinha muitos esconderijos intactos.

Passaram-se três meses e as coisas foram piorando. O medo aumentou e o futuro começou a se borrar. As lives começaram a encher o saco.

Clientes foram embora, a grana foi sumindo, a casa sujando, filho mudando e aconteceu o primeiro surto.

Saí do emprego. Tudo ficou diferente. O filho adiantou 3 anos. A casa sujou. Eletromésticos quebraram. Os almoços foram ficando mais simples. Cansamos.

Sete meses depois, segundo surto maternal. 

Não tem mais pão, nem bolo, nem biscoito. Não tem mais salada. Não tem mais paciência. Não tem mais trabalho. Não tem mais esperança. Não tem mais pijama. Não tem mais roupa que sirva. Não tem mais nada.

Mas tem mesmas contas. Alta no supermercado. No aluguel. Na farmácia. Há praias lotadas, shows. Eleições, passeatas e aglomeração.  Aulas online. Sufoco. Limite. Julgamentos, crises, intolerância.

E estamos apenas na primeira onda.

Tudo tem sido difícil. Nada tem se comportado como antes e aquele negócio chamado resiliência tem se mostrado um desafio diário. Há dias de festa e há dias de ressaca. Dias cinzas e dias azuis. 

Mas sabe uma coisa que tem de sobra por aqui? Amor.

Ainda bem.


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