terça-feira, 1 de agosto de 2017
Em quantos
atrativos culturais e históricos se faz um destino? Em Caxias, provavelmente em
centenas. A variedade e a qualidade dos equipamentos históricos turísticos
chama a atenção e proporciona ao visitante um contato próximo com a historia, poesia
e com a natureza. A cidade aposta no turismo para trazer avanços, sobretudo,
econômicos a comunidade.
Caxias, uma cidade quase bicentenária,
na região leste-maranhense, tornou-se nos últimos anos destino certo para os
amantes do turismo histórico-cultural. Com um patrimônio bem diversificado é
referência para o Brasil, especialmente nas letras e tantos outros vultos
literários que fizeram e fazem de Caxias um lugar onde a poesia aflora em todas
as épocas, tendo participação em movimentos políticos significativos
maranhenses e brasileiro.
Lá, parte da história das letras do
Brasil foi construída. No solo caxiense, batalhas homéricas, como a Balaiada
(1838-1841): Revolta popular no Maranhão recebeu esse nome devido ao apelido de
uma das principais lideranças do movimento, Manoel Francisco dos Anjos
Ferreira, o "Balaio", guerra, essa que eclodiu no período regencial
brasileiro. Quem visita a cidade pode conhecer os mais diferentes atrativos; como
igrejas centenárias, casarios históricos e os museus.
O município é o quinto maior do Estado
do Maranhão, com mais de 160 mil habitantes, encravado na Microrregião de
Caxias, cortado pelo rio Itapecuru e seus afluentes, está a 365 km de São Luís,
constituindo um dos mais expressivos centros econômicos do Maranhão, com um
parque industrial ativo, importantes atrações turísticas e um grande número de
intelectuais que a tornam um celeiro cultural que se destaca dentre os demais
municípios do Estado. Embora tenha sofrido baixas irreparáveis, Caxias ainda
abriga exemplares arquitetônicos do século XIX que possuem significativo valor
histórico.
Inicialmente formado por um grande
conglomerado de aldeias dos índios Timbiras e Gamelas, após a colonização
portuguesa os nativos foram subjugados e vendidos como escravos. No século XVII
as margens do rio Itapecuru começaram a ser ocupadas num processo de
colonização que contou com o trabalho de missionários da igreja. Após o domínio
dos indígenas, o lugar foi denominado de Guanaré, São José das Aldeias Altas,
Freguesia das Aldeias Altas, Vila de Caxias e, definitivamente, com a categoria
de Caxias, por intermédio da Lei Provincial Nº 24, de 05 de julho de 1836. É
conhecida como “A Princesa do Sertão Maranhense”, denominação recebida de Dom
Manoel Joaquim da Silveira, em 1858, na igreja de São Benedito, situada naquela
cidade.
Assim como aconteceu com outros
municípios do Maranhão, tais como Alcântara, Viana ou Guimarães, o nome Caxias
foi retirado de uma localidade de Portugal, e provém de “Cachias”, uma Quinta
da realeza portuguesa então existente nos arredores de Lisboa. O município era,
anteriormente, bem grande, e da sua área original foram emancipados os
municípios de Timon, Aldeias Altas, Coelho Neto, Codó, e São João do Sóter. No
século XIX, aconteceu a Balaiada, em 1839, a maior revolta social do Maranhão,
até então, e Caxias foi o palco da última batalha desse movimento
insurrecional. Por ter sufocado a Balaiada, Luís Alves de Lima e Silva, patrono
do Exército Brasileiro, foi condecorado primeiramente como Barão de Caxias e,
posteriormente, com o título de Duque de Caxias. Hoje, um dos pontos turísticos
de Caxias é o “Memorial da Balaiada”, que fica situado no Morro do Alecrim. No
local, foi realizada importante escavação arqueológica sob o comando de
Deusdédit Leite, e encontrado material de grande importância histórica, que
está exposto à visitação pública.
Caxias é cortado pelo rio Itapecuru,
autenticamente maranhense, único que nasce e deságua no próprio Estado, e
referência histórica sob o ponto de vista da colonização; este rio funcionou
durante muito tempo como meio de transporte, escoando a produção,
principalmente agrícola, produzida pelos primeiros desbravadores da terra. No
Maranhão, muitos municípios foram erguidos ou surgiram a partir da vinda de
refugiados das secas do Ceará, tanto a do final do século XIX quanto a de 1915.
Em Caxias, muitos moradores são
descendentes de cearenses que vieram se abrigar às margens do Itapecuru em
busca da água que agora vem minguando a cada dia no velho Itapecuru,
principalmente no entorno da cidade, onde as leis ambientais não são
respeitadas, como se verifica no balneário da Veneza. Ali, existe uma nascente
valiosíssima, precedida de uma vereda, onde nada deveria ser construído num
raio de 50 metros da nascente, mas não é isso o que se observa. As construções
no balneário estão às margens do lago da Veneza, que também é um contribuinte
do Itapecuru. Este é um dos pontos turísticos mais importantes de Caxias,
dentre outros, tais como a antiga Fábrica de Tecidos e a antiga Estação
Ferroviária.
Caxias tem, desde o seu início,
produzido nomes ilustres para a cultura maranhense, dentre os quais se destacam
Gonçalves Dias, Teófilo Dias, Vespasiano Ramos, Coelho Neto, César Marques,
Teixeira Mendes, os artistas plásticos Celso Antônio e Tita do Rego Silva. A
Academia Caxiense de Letras - ACL, fundada em 15 de agosto de 1997, conta com
40 membros efetivos, dentre os quais Renato Meneses e Wybson Carvalho, que
muito enobrecem a história caxiense.
Ainda hoje se pode visitar os alicerces
da casa na qual nasceu Gonçalves Dias, hoje situada no município de Aldeias
Altas, em decorrência do desmembramento desse município do de Caxias, que
possui uma razoável rede hoteleira e bons restaurantes, o que favorece o
turismo, tanto ecológico quanto cultural. Vale a pena conhecer os encantos da
antiga “Princesa do Sertão”.
Ao aniversário da sua Independência. 1 de Agosto.
Caxias, bela flor, lírio dos vales,
Gentil senhora de mimosos campos,
Como por tantos anos foste escrava,
Como a indócil cerviz curvaste ao jugo?
Oh! como longos anos insofríveis,
Rainha altiva, destoucada e bela,
Rojaste aos pés de um regulo soberbo?
À míngua definhaste em negro câncer,
Onde um raio de sol não penetrava;
Em masmorra cruel, donde não vias
Cintilar o clarão d′amiga estrela...
Oh! não, que a luz da esperança tinhas n′alma,
E o sol da liberdade um dia viste,
De glória e de fulgor resplandecente,
Em céu sem nuvens no horizonte erguido.
Eis o som do tambor atroa os vales,
O clangor da trombeta, os sons das armas,
A terra abalam, despertando os ecos.
— Eia! oh bravos, erguei-vos, — à peleja,
À fome, à sede, às privações, — erguei-vos!
Tu, Caxias, acorda, — tu, rainha,
Lamina de aço puro, envolta em ferro,
Ao sol refulgirás; — flor que esmoreces,
À míngua de ar, em cárcere de vidro,
Em ar mais livre cobrarás alento,
Graça, vida e frescor da liberdade.
Ante mural do lusitano arrojo,
Último abrigo seu, — feros soldados,
Veteranas cortes nos teus montes
Cavam bélicas tendas! — Um guerreiro,
O nobre Fidié, que a antiga espada
Do valor português empunha ardido,
No seu mando as retém: debalde, oh forte,
Expões teus dias! teu esforço inútil
Não susta o sol no rápido declive,
Que imerge aquém dos Andes orgulhosos
Da África e da Ásia os desbotados louros!
Eia! — o brônzeo canhão rouqueja, estoura,
Ribomba o férreo som d′um eco em outro,
Nuvens de fumo c pó lá se condensam...
Correi, bravos, correi!... mas tu és livre,
És livre como o arbusto dos teus prados,
Livre como o condor que aos céus se arroja;
És livre! — mas na acesa fantasia
Debuxava-me o espírito exaltado
Fráguas cruas de morte, o horror da guerra
Descobrir, contemplar. — Oh! fora belo
Arriscar a existência em pró da pátria,
Regar de rubro sangue o pátrio solo,
E sangue e vida abandonar por ela.
Longe, delírios vãos, longe fantasmas
De ardor febricitante!
À glória deste dia comparar-se
Pode acaso visão, delírio, ou sonho?
Ao fausto aniversário
Da nossa independência?
Aclamações altíssonas
Corram nos ares da imortal Caxias:
Seja padrão de glória entre nós outros
Santificada aurora,
Que os vis grilhões de escravos viu partidos.
© GONÇALVES DIAS
In Últimos Cantos, 1851
Poesias Diversas
Texto original publicado na edição 133 do Jornal Cazumbá
Fotos: David Sousa
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