sexta-feira, 8 de setembro de 2017
Cidade abraçada por turistas do mundo inteiro, cultua lendas, tradições portuguesas, francesas e indígenas, e serviu de inspiração para gênios da literatura regional e nacional.

Aos 405 anos, São Luís do Maranhão é cidade dos azulejos, a ilha do amor, a Jamaica brasileira, a ilha rebelde, a Atenas brasileira, é uma cidade com terras antes ocupadas pelos índios tupinambás, mas fundada por franceses e após a Batalha de Guaxenduba, colonizada pelos portugueses. Uma cidade marcada por conflitos desde o começo, como o da liberal Ana Jansen contra seus inimigos conservadores.

Uma cidade abraçada, até hoje, por turistas que se transformam em residentes por não terem mais coragem de ir embora. Uma cidade que cultua lendas, inclusive uma que trata da sua própria destruição, quando a serpente acordar.

Uma cidade que busca a modernidade, mas a duras penas conserva um impressionante acervo arquitetônico que nos remete a séculos passados. Uma cidade que foi o berço e inspirou gênios da literatura como Josué Montello, Gonçalves Dias, Graça Aranha, Aluísio de Azevedo, Ferreira Gullar entre outros.

Uma cidade que não consegue se contentar com pouco quando se fala em manifestação cultural. Dos livros à dança, a cidade com diversidade que impressiona. Blocos tradicionais, escolas de samba, blocos de sujo, tribos de índio, bumba meu boi, tambor de crioula, cacuriá, dança do coco, o caroço, os clubes de reggae, e as atrações de todos os gêneros nos ‘quatro cantos da Ilha’ durante todos os dias. É uma cidade de culinária que agrada sem fazer muito esforço. É fácil gostar dos pratos típicos da terra.

Mas pra chegar a tudo isso e muito mais, São Luís passou por uma série de eventos ao longo da história. Antônio Noberto é cearense e recentemente recebeu título de cidadão ludovicense dado pela Câmara de Vereadores. De fato, ele é uma pessoa que tem relações profundas com a cidade. Um trabalho de anos de pesquisa e apresentado todos os anos sobre a fundação e o desenvolvimento de São Luís revela situações como a boa relação entre os povos no começo da cidade, quando os franceses tomavam as ações comandados por Daniel de La Touche de La Ravardière.

“Daniel de La Touche foi o fundador, mas algumas pessoas ainda falam que foi Jerônimo de Albuquerque. Os franceses chegaram primeiro e três anos depois os portugueses desembarcaram. A fortaleza construída pelos franceses era toda a área onde hoje é a Praça Pedro II e o fosso para evitar invasões, era onde hoje temos a Rua do Egito”, disse Noberto.

A cidade foi fundada no dia 8 de setembro de 1612 e Daniel de La Touche foi governador da Ilha até 1615. O primeiro nome dado foi ‘Fort Saint Louis’ (Forte São Luís, em homenagem ao rei francês Luís IX da França, monarca da época). Mas os primeiros habitantes, os tupinambás, a chamavam de Upaon Açu, que significa 'Ilha Grande'.

Para Noberto, os franceses desenvolveram um ambiente de harmonia entre todos os povos que estavam no Forte São Luís e depois em outras regiões mais afastadas, que hoje são outros municípos maranhenses. Segundo o turismólogo, as crianças francesas e indígenas estudavam no mesmo local. Alguns franceses começaram relacionamento com índias e a tranquilidade e o progresso marcou aquele momento.

“Uma colônia com todas as virtudes daquelas implantadas na América do Norte, formada por gente de valor, geralmente ligada à religião e aos ofícios. A qualidade do material humano da França no Maranhão era de impressionar.

"Após a cerimônia de posse trataram de promulgar o primeiro conjunto de leis das Américas, construíram quatro fortalezas na Ilha Grande, enviaram embaixadas de reconhecimento aos principais rios, como o Mearim e o Grajaú. O próprio La Touche foi ele mesmo reconhecer a região amazônica subindo o rio Tocantins passando pela terra dos caetés, atual Bragança-PA, além de Cametá e Pacajá, seguindo em direção a Marabá e Imperatriz, sendo a viagem interrompida pela ameaça portuguesa. 

Construíram em pedra o primeiro convento capuchinho do Brasil, o convento e igreja de São Francisco, atual Convento de Santo Antônio, mais precisamente a Capela dos Navegantes, local onde os indiozinhos e francesinhos aprendiam juntos a língua um do outro. O ponto alto da colônia foi a boa convivência entre católicos, protestantes e tupinambás, que não obstante os conflitos religiosos na Europa e algumas poucas alfinetadas recíprocas, eles conseguiram se entender por aqui. A colônia, enfim, era de paz”, diz o historiador.

Os franceses perderam a guerra e foram expulsos pelas tropas comandadas por Jerônimo de Albuquerque e Alexandre de Moura. Antônio Noberto faz um desabafo. Ele acredita que São Luís perdeu muito em ser colonizado por portugueses e não pelos franceses. Na opinião do pesquisador, o Maranhão a partir de sua capital, teria uma realidade melhor se fosse uma colônia francesa por conta da forma que os colonizadores adotavam a educação. Ele faz um paralelo com a Guiana Francesa.

“A diferença entre o Maranhão, que um dia sediou uma Nova França, e a Guiana, que continua sendo uma França Equinocial, é muito grande. Atualmente, parte considerável dos trabalhadores brasileiros que pulam a cerca para tentar a vida no território francês é formada por maranhenses, que se aventuram em garimpos de ouro, ou como pedreiros, carpinteiros, motoristas, cozinheiras, babás ou em outras profissões. O salário mínimo por lá é de 1.500 euros, cerca de R$ 5.600,00. A principal diferença entre os dois, no entanto, está no modelo colonial implantado, pois enquanto os portugueses proibiam a educação, os franceses foram um pouco mais generosos com sua colônia. A primeira escola de segundo grau no Maranhão só chegou após a independência do Brasil, o Liceu, implantado em 1838, cujo primeiro diretor foi Francisco Sotero dos Reis, e o primeiro jornal só circulou em terras timbiras em 1823”, conclui Antônio Noberto, que também é turismólogo, escritor e membro-fundador da Academia de Letras de São Luís.

A tradição dos portugueses deixou marcas que ficaram estampadas nos casarões coloniais construídos no Centro Histórico de São Luís. Os belos azulejos, as formas arquitetônicas dos casarões fizeram de São Luís uma cidade admirada pelo mundo inteiro. Reconhecimento de tanta beleza e importância foi destacado quando em 1977, o conjunto arquitetônico de São Luís foi coroado como Patrimônio da Humanidade pela Unesco, órgão da Organização das Nações Unidas (ONU) para a educação, ciência e cultura.

Texto e fotos publicado originalmente em: http://g1.globo.com/ma/maranhao/

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