sábado, 7 de dezembro de 2019
       "Vocês (ludovicenses) dormem sobre um tesouro e não estão sabendo"
        Jean Claude Weisz,  Ex-secretario de turismo de Saint-Malo/ Fr

Permitam -me  uma breve reflexão sobre a quase total exclusão de São Luís dos benefícios da Rota das emoções, roteiro turístico que integra territórios do Ceará, Piauí e Maranhão. Aproveito para fazer uma leitura bem mais ampla para tentar explicar o que aconteceu (e continua acontecendo) e muita gente não percebeu.

A nossa história é um grande tesouro

Em outros tempos, mais precisamente a partir do final do século XVIII, quando os ventos iluministas revolucionários ganhavam o mundo, com os olhos de águia do Marquês de Pombal, São Luís deu início a um período de crescimento econômico como nunca visto, com amplo reflexo no século seguinte, onde mantínhamos "com gostos e gastos duas colônias estrangeiras", sendo uma inglesa, que vendia o conforto (as máquinas, em especial) e uma francesa, de venda de artigos de luxo. Sem falar nas companhias líricas da Itália, e os grandes paisagistas estrangeiros que retrataram aquela São Luís plural, turística, "charmante", estando entre os principais Desiré Troubert, Domingos e Horácio Tribuzzi, Vanere e tantos outros. 

E não nos esqueçamos dos sírio-libaneses, que continuaram trazendo o que de mais novo era produzido no primeiro mundo, a exemplo do cinema, que chegou no Maranhão dois anos após ter sido inventado pelos irmãos Lumière, em Paris, em fins do século XIX. Na literatura éramos a segunda potência do país, só atrás da capital federal, o Rio de Janeiro.  Vivíamos ao mesmo tempo a Atenas e a Belle époque (1875 a 1915). São Luís e o estado do Maranhão eram uma espécie de Meca setentrional do Brasil para onde todos afluíam. 

São Luís era uma capital internacional, ligada diretamente à Europa e aos Estados Unidos. E tudo isto surgiu a partir de uma importante decisão da Assembleia provincial do Maranhão, que criou uma lei obrigando a província a custear os maranhenses nas universidades da Europa. E quando eles voltavam de lá reproduziam aqui o que aprenderam no Velho Mundo.  

O que aconteceu que tudo mudou?

Com a alternância dos impérios, o poder foi migrando da Europa para os EUA. E no contexto nacional, o fim da escravidão provocou a quebra da economia brasileira, já abalada desde algum tempo com a famigerada Guerra do Paraguai. O Maranhão caía em desgraça a passos largos. Aos poucos fomos deixando de ser uma capital internacional e sendo dobrados e anexados pela política nacional, que muito pouco nos ofereceu nas últimas décadas. Há pelo menos meio século, a ganância estrangeira foi podando as nossas asas e nos dando pautas e caminhos sem futuro, e nós fomos mordendo as iscas e descendo a ladeira, calados, defendendo o próprio caos. O que nos sobrou foram os títulos desta trajetória: "Capital da França Equinocial, capital do estado imperial do Maranhão (que pegava quase metade do atual território brasileiro), Atenas brasileira, etc.

O que precisa ser feito para melhorar?

A Rota das emoções é a força do turismo natural, que está longe de concorrer pari-passo com o turismo histórico cultural, que é mais sedimentado, menos suscetível a sazonalidade, degrada menos o ambiente, etc. Esse tipo de turismo no Brasil, o cultural, deixou de ser incentivado pelo terceiro mundo, não porque ele não seja importante, ao contrário, é porque o primeiro mundo não quer mais concorrentes. Eles sabem o valor do engenho humano e, por isto, praticamente só incentivam o turismo natural no nosso país. Mas São Luís tem "pedigree", só precisa perceber o valor que tem e entender que o seu grande atrativo e nicho de mercado é a sua rica história. É preciso investir nisto enquanto ainda é tempo, afinal, nem tudo está perdido.

Antonio Noberto - Turismólogo, historiador e escritor. Membro da Academia Ludovicense de Letras (ALL) e do Instituto Histórico, Geográfico do Maranhão (IHGM). Idealizador e curador da Exposição França Equinocial.

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